Progresso espiritual
Ensinos e Dissertações Espíritas
A REENCARNAÇÃO
(Enviado de Haia – Médium: barão de Kock)
A doutrina da reencarnação é uma verdade que não pode ser contestada; desde que o homem só quer pensar no amor, na sabedoria e na justiça de Deus, não pode admitir nenhuma outra doutrina.

É verdade que nos livros sagrados só se encontram estas palavras: “Depois da morte, o homem será recompensado segundo suas obras”. Mas não se presta suficiente atenção a uma infinidade de citações, que vos dizem ser absolutamente inadmissível que o homem atual seja punido pelas faltas e pelos crimes dos que viveram antes de Cristo. Não posso voltar a tantos exemplos e demonstrações dados pelos que acreditam na reencarnação; vós mesmos o podeis fornecer, os Espíritos bons os ajudarão e será um trabalho agradável. Podeis acrescentar isto aos ditados que vos dei e vos darei ainda, se Deus o permitir. Estais
convencidos do amor de Deus pelos homens; ele só deseja a felicidade de seus filhos. Ora, o único meio que têm de um dia alcançar essa suprema felicidade está inteiramente nas reencarnações sucessivas.

Já vos disse que o que Kardec escreveu sobre os anjos decaídos é pura verdade. Os Espíritos que povoam vosso globo, na maioria sempre o habitaram. Se são os mesmos que retornam há tantos séculos, é que pouquíssimos mereceram a recompensa prometida por Deus.

O Cristo disse: “Esta raça será destruída e em breve esta profecia será cumprida.” Se se acredita num Deus de amor e de justiça, como admitir-se que os homens que vivem atualmente e mesmo os que viveram há dezoito séculos, possam ser culpados pela morte do Cristo sem aceitar a reencarnação? Sim, o sentimento de amor a Deus, o das penas e recompensas da vida futura, a idéia da reencarnação são inatas no homem desde séculos. Vede toda a História, vede os escritos dos sábios da Antigüidade e vos convencereis de que esta doutrina em todos os tempos foi admitida por todos os homens que compreendem a justiça de Deus. Agora compreendeis o que é a nossa Terra e como é chegado o momento em que serão realizadas as profecias do Cristo.

Lamento que encontreis tão poucas pessoas que pensam como vós. Vossos compatriotas não pensam senão nas grandezas e no dinheiro, a fim de criarem um nome; repelem tudo quanto possa entravar suas paixões infelizes. Porém, que isto não vos desencoraje; trabalhai pela vossa felicidade, pelo bem daqueles que talvez se arrependam de seus erros; perseverai na vossa obra; pensai sempre em Deus, no Cristo, e a beatitude celeste será a vossa recompensa.

Se se quiser examinar a questão sem preconceito,refletir sobre a existência do homem nas diferentes condições da sociedade e coordenar essa existência com o amor, a sabedoria e a justiça de Deus, toda a dúvida concernente ao dogma da reencarnação deve logo desaparecer. Efetivamente, como conciliar esta justiça e esse amor com uma existência única, onde todos nascem em posições tão diferentes? Onde um é rico e poderoso,enquanto o outro é pobre e miserável? Em que um goza de saúde, ao passo que o outro é afligido de males de toda a sorte? Aqui se encontram a alegria e a vivacidade; mais longe, tristeza e dor; em uns a inteligência é mais desenvolvida; em outros, apenas se eleva acima dos brutos. Pode-se crer que um Deus todo amor tenha feito nascer criaturas condenadas por toda a vida ao idiotismo e à demência? Que tenha permitido que crianças na primavera da vida fossem arrebatadas à ternura dos pais? Ouso mesmo perguntar se se poderia atribuir a Deus o amor, a sabedoria e a justiça à vista desses povos mergulhados na ignorância e na barbárie, comparados às nações civilizadas, onde imperam as leis, a ordem, onde se cultivam as artes e as ciências? Não basta dizer: “Em sua sabedoria,Deus assim regulou todas as coisas.” Não; a sabedoria de Deus, que antes de tudo é amor, deve tornar-se clara para o entendimento humano. O dogma da reencarnação tudo esclarece. Este princípio, dado pelo próprio Deus, não se pode opor aos princípios das Santas Escrituras; longe disso, explica os princípios dos quais emanam para o homem o melhoramento moral e a perfeição. Este futuro, revelado pelo Cristo, está de acordo com os atributos infinitos de Deus. Disse o Cristo: “Os homens todos não são apenas filhos de Deus, mas, também, irmãos e irmãs da mesma família.” Ora, essas expressões devem ser bem compreendidas.

Um bom pai terrestre dará a algum de seus filhos aquilo que recusa aos outros? Lançará um no abismo da miséria, enquanto cumula o outro de riquezas, honras e dignidades? Acrescentai ainda que o amor de Deus, sendo infinito, não poderia ser comparado ao do homem por seus filhos. As diferentes posições do homem têm uma causa, e essa causa tem por princípio o amor, a sabedoria, a bondade e a justiça de Deus. Assim, a sua razão de ser só se encontra na doutrina da reencarnação.

Deus criou todos os Espíritos iguais, simples,inocentes, sem vícios e sem virtudes, mas com o livre-arbítrio de regular suas ações conforme um instinto, que se chama consciência, e que lhes dá o poder de distinguir o bem e o mal. Cada Espírito está destinado a alcançar a mais elevada perfeição,atrás de Deus e do Cristo. Para atingi-la, deve adquirir todos os conhecimentos pelo estudo de todas as ciências, iniciar-se em todas as verdades e depurar-se pela prática de todas as virtudes. Ora, como essas qualidades superiores não podem ser obtidas numa única vida, todos devem percorrer várias existências, a fim de adquirirem os diversos graus do saber.

A vida humana é a escola da perfeição espiritual e uma série de provas. É por isso que o Espírito deve conhecer todas as condições da sociedade e, em cada uma delas, aplicar-se em cumprir a vontade divina. O poder e a riqueza, assim a pobreza e a humildade, são provas; dores, idiotismo, demência, etc., são punições pelo mal cometido numa existência anterior.

Do mesmo modo que pelo livre-arbítrio o indivíduo se encontra em condições de realizar as provas a que está submetido, também pode falir. No primeiro caso, a recompensa não se fará esperar, consistindo numa progressão na perfeição espiritual. No segundo caso, recebe a punição, isto é, deve reparar em nova vida o tempo perdido na vida anterior, da qual não soube tirar vantagem para si mesmo.

Antes de sua reencarnação, os Espíritos planam nas esferas celestes: os bons gozando a felicidade, os maus entregandose ao arrependimento, expostos à dor de serem desamparados por Deus. Mas, conservando a lembrança do passado, o Espírito se recorda das infrações aos mandamentos divinos e Deus lhe permite escolher, em nova existência, suas provas e sua condição, o que explica por que, muitas vezes, encontramos nas classes inferiores da sociedade sentimentos elevados e entendimento desenvolvido, ao passo que nas classes superiores encontramos tendências ignóbeis e Espíritos embrutecidos. Pode-se falar de injustiça quando o homem, que empregou mal a sua vida, pode reparar suas faltas numa outra existência e alcançar sua meta? Não estaria a injustiça na condenação imediata e sem apelação? A Bíblia fala de castigos eternos, mas isto não se deveria entender por uma só existência, tão triste, e tão curta; para este instante, para este piscar em relação à eternidade. Deus quer dar a felicidade eterna como recompensa do bem, mas é preciso merecê-la e uma vida única, de curta duração,não basta para alcançá-la.

Muitos perguntam por que Deus, durante tanto tempo,teria ocultado aos homens um dogma cujo conhecimento é útil à sua felicidade. Teria amado aos homens menos do que agora?

O amor de Deus é de toda a eternidade. Para os esclarecer enviou sábios, profetas e Jesus-Cristo, o Salvador. Não é uma prova de seu infinito amor? Mas como receberam os homens esse amor? Melhoraram?

O Cristo disse: “Eu poderia ainda vos dizer muitas coisas, mas não seríeis capazes de compreendê-las, devido à vossa imperfeição.” Se tomarmos as Santas Escrituras no seu verdadeiro sentido intelectual, aí encontraremos muitas citações que parecem indicar que o Espírito deve percorrer várias vidas antes de chegar ao fim. Também não se encontram nas obras dos filósofos antigos as mesmas idéias sobre a reencarnação dos Espíritos?

O mundo progrediu bastante, sob o aspecto material,nas ciências, nas instituições sociais; mas, do ponto de vista moral ainda está muito atrasado. Os homens desconhecem a lei de Deus e não ouvem mais a voz do Cristo. Eis por que, em sua bondade e como último recurso para chegar a conhecer os princípios da felicidade eterna, Deus lhes dá a comunicação direta com os Espíritos e o ensino da doutrina da reencarnação, palavras repletas de consolação e que brilham nas trevas dos dogmas de tantas religiões diferentes.

À obra! E que a busca se realize com amor e confiança. Lede sem preconceitos; refleti sobre tudo quanto Deus, desde a criação do mundo, se dignou fazer pelo gênero humano e sereis confirmados na fé que a reencarnação é uma verdade santa e divina.

Observação – Não tínhamos a honra de conhecer o Sr.barão de Kock. Esta comunicação, que concorda com todos os princípios do Espiritismo, não é, pois, o produto de nenhuma influência pessoal.

O REALISMO E O IDEALISMO NA PINTURA
(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. A. Didier)

I

A pintura é uma arte que tem por objetivo retraçar as cenas terrestres mais belas e mais elevadas e, algumas vezes, simplesmente imitar a Natureza pela magia da verdade. É uma arte que, por assim dizer, não tem limites, sobretudo em vossa época. A arte de vossos dias não deve ser apenas a personalidade; deve ser,se assim me posso exprimir, a conseqüência de tudo o que foi na História, e as exigências da cor local, longe de entravar a personalidade e a originalidade do artista, ampliam-lhe a vista, formam e depuram seu gosto e o fazem criar obras interessantes para a arte e para os que nela querem ver uma civilização caída e idéias esquecidas. A chamada pintura histórica de vossas escolas não está em consonância com as exigências do século; e – ouso dizê-lo – há mais futuro para um artista em suas pesquisas individuais sobre a arte e sobre a História do que nessa via onde dizem que comecei a pôr o pé. Só uma coisa poderá salvar a arte de vossa época: um novo impulso e uma nova escola que, aliando os dois princípios que dizem tão contrários – o realismo e o idealismo – induza os jovens a compreender que se os mestres assim são chamados, é porque viviam com a Natureza e sua imaginação poderosa inventava onde era preciso inventar, mas obedecia onde era preciso obedecer.

Para as pessoas ignorantes da ciência da arte, muitas vezes as disposições substituem o saber e a observação. Assim, em vossa época vêem-se em toda parte homens de uma imaginação deveras interessante, é certo, mesmo artistas, mas não pintores. Estes não serão contados na História senão como desenhistas muito engenhosos. A rapidez no trabalho, a apreciação crítica do pensamento se adquire paulatinamente pelo estudo e pela prática e,a despeito de se possuir essa imensa faculdade de pintar depressa, ainda é necessário lutar, sempre lutar. Em vosso século materialista a arte – não o digo sob todos os pontos de vista, felizmente – materializa-se ao lado dos esforços verdadeiramente surpreendentes dos homens célebres da pintura moderna. Por que essa tendência? É o que indicarei na próxima comunicação.

II

Como disse em minha última comunicação, para bem compreender a pintura seria necessário ir, sucessivamente, da prática à idéia, da idéia à prática. Quase toda a minha vida passou-se em Roma. Quando eu contemplava as obras dos mestres, esforçava-me por captar em meu espírito a ligação íntima, as relações e a harmonia do mais elevado idealismo e do mais verdadeiro realismo. Raramente vi uma obra-prima que não reunisse esses dois grandes princípios. Nelas via o ideal e o sentimento da expressão, ao lado de uma verdade tão brutal que dizia a mim mesmo: é bem a obra do espírito humano; é bem a obra, concebida e depois realizada; é bem a alma e o corpo: é a vida integral. Via que os mestres de idéias e compreensão débeis, o eram em suas formas, em suas cores, em seus efeitos. A expressão de suas cabeças era incerta e a de seus movimentos, banal e sem grandeza. É necessária uma longa iniciação na Natureza para bem compreender os seus segredos, os seus caprichos e as suas sublimidades. Não é o pintor quem o quer; além do trabalho de observação, que é imenso, é preciso lutar no cérebro e na prática contínua da arte; num dado momento é necessário trazer à obra que se quer produzir os instintos e o sentimento das coisas adquiridas e das coisas pensadas; numa palavra, sempre esses dois grandes princípios: alma e corpo.

Nicolas Poussin

OS OBREIROS DO SENHOR
(Cherbourg, fevereiro de 1861 – Médium: Sr. Robin)

Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões,houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão! Clamarão: “Graça! graça!” O Senhor, porém, lhes dirá: “Como implorais graças, vós que não tivestes piedade dos vossos irmãos e que vos negastes a estenderlhes as mãos, que esmagastes o fraco, em vez de o amparardes? Como suplicais graças, vós que buscastes a vossa recompensa nos gozos da Terra e na satisfação do vosso orgulho? Já recebestes a vossa recompensa, tal qual a quisestes. Nada mais vos cabe pedir; as recompensas celestes são para os que não tenham buscado as recompensas da Terra.”

Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus.”

O Espírito de Verdade

15 N. do T.: Vide O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XX, item 5.

INSTRUÇÃO MORAL

(Paris; Grupo Faucheraud – Médium: Sr. Planche)

Venho a vós pobres extraviados que deslizais numa terra escorregadia, cuja súbita inclinação não espera senão que deis alguns passos para vos precipitardes no abismo. Como bom pai de família, venho vos estender a mão caridosa para vos salvar do perigo. Meu maior desejo é conduzir-vos para a casa paterna e divina, a fim de vos fazer sentir o amor de Deus e do trabalho, pela fé e pela caridade cristã, pela paz e pelos prazeres e doçuras do lar. Como vós, meus caros filhos, conheci alegrias e sofrimentos e sei todas as dúvidas dos vossos Espíritos e as lutas dos vossos corações. É para vos premunir contra vossos defeitos e vos mostrar os escolhos contra os quais podereis vos aniquilar que serei justo, mas severo.

Do alto das esferas celestes que percorro, meu olhar mergulha com alegria em vossas reuniões e é com vivo interesse que acompanho as vossas santas instruções. Mas, ao mesmo tempo que minha alma se regozija por um lado, experimenta por outro um desgosto bem amargo, quando penetra em vossos corações e ainda aí vê tanto apego às coisas terrestres. Para a maioria, o santuário de nossas lições é tido como sala de espetáculo e esperais sempre de nossa parte alguns fatos maravilhosos. Não estamos encarregados de vos fazer milagres; nossa missão é trabalhar os vossos corações,abrindo neles grandes sulcos para lançar a mancheias a semente divina. Dedicamo-nos incessantemente a torná-la fecunda, porque sabemos que suas raízes devem atravessar a terra de um a outro pólo, cobrindo-lhe toda a superfície. Os frutos que daí saírem serão tão belos, tão suaves e tão grandes que subirão até os céus.

Felizes os que tiverem sabido colhê-los para se saciar,porque os Espíritos bem-aventurados virão ao seu encontro, cingirão a sua fronte com a auréola dos eleitos, fá-lo-ão subir os degraus do trono majestoso do Eterno e lhe dirão que participe da felicidade incomparável, dos prazeres e das delícias sem-fim das falanges celestes.

Infeliz daquele a quem foi dado ver a luz e ouvir a palavra de Deus e que tiver fechado os olhos e tapado os ouvidos; o Espírito das trevas o envolverá com suas lúgubres asas e o transportará para o seu tenebroso império, a fim de o fazer expiar, durante séculos, por tormentos sem conta, sua desobediência ao Senhor. É o momento de aplicar a sentença de morte do profeta Oséias: Coedam eos secundum auditionem coetus eorum (Eu os farei morrer conforme o que tiverem ouvido). Que estas breves palavras não sejam uma fumaça a evolar-se nos ares, mas, sim, que cativem a vossa atenção, para que as mediteis e reflitais seriamente. Apressai-vos por aproveitar os poucos instantes que vos restam para os consagrar a Deus. Um dia, viremos vos pedir conta do que tiverdes feito dos nossos ensinos e como tereis posto em prática a doutrina sagrada do Espiritismo.

A vós, pois, espíritas de Paris, que muito podeis por vossa posição social e por vossa influência moral, a vós, digo, a glória e a honra de dar o exemplo sublime das virtudes cristãs. Não espereis que o infortúnio venha bater à vossa porta. Ide à frente de vossos irmãos sofredores, dai ao pobre o óbolo do dia, enxugai as lágrimas da viúva e do órfão com palavras doces e consoladoras. Levantai o ânimo abatido do velho, curvado ao peso dos anos e sob o jugo de suas iniqüidades, fazendo luzir em sua alma as asas douradas da esperança numa vida futura melhor. Por toda parte, à vossa passagem, prodigalizai o amor e a consolação. Assim, elevando as vossas boas obras à altura dos vossos pensamentos,merecereis dignamente o título glorioso e brilhante que mentalmente vos conferem os espíritas da província e do estrangeiro, cujos olhos estão fixados sobre vós e que, tocados de admiração à vista das ondas de luz que escapam de vossas assembléias, vos chamarão o sol da França.

Lacordaire

A VINHA DO SENHOR

(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. E. Vézy)

Todos, enfim, virão trabalhar na vinha. Já os vejo; chegam, numerosos; ei-los que acorrem. Vamos, à obra, filhos! Quer Deus que todos vós trabalheis.

Semeai, semeai, e um dia colhereis com abundância. Vede no Oriente esse belo Sol; como se ergue radioso e deslumbrante! Vem vos aquecer e fazer crescer os frutos da videira. Vamos, filhos! as vindimas serão esplêndidas e cada um de vós virá beber a taça do vinho sagrado da regeneração. É o vinho do Senhor, que será derramado no banquete da fraternidade universal! Aí todas as nações serão reunidas numa só e mesma família e cantarão louvores a um mesmo Deus. Armai-vos, pois, do arado e do machado, se quiserdes viver eternamente; amarrai as cepas, para que não caiam e se mantenham erguidas, e suas ramas subirão ao céu. Algumas terão cem côvados e os Espíritos dos mundos etéreos virão espremer os bagos e se refrescar; o suco será de tal modo poderoso que dará força e coragem aos fracos. Será o leite nutritivo das crianças.

Eis a vindima que se vai fazer; ela já se faz; preparamse os vasos que devem conter o licor sagrado; aproximai os lábios, vós que quereis provar, porquanto esse licor vos inebriará de um êxtase celeste, e vereis Deus em vossos sonhos, enquanto esperais que a realidade suceda ao sonho.

Filhos! essa vinha esplêndida que deve erguer-se para Deus é o Espiritismo. Adeptos fervorosos: é preciso mostrá-la poderosa e forte; e vós, crianças, é necessário que ajudeis os fortes a mantê-la e a propagá-la. Cortai os brotos e plantai-os em outro campo; eles produzirão novas vinhas e outros brotos em todos os países do mundo.
16 Nota da Editora: Ver “Nota Explicativa”, p. 529.

Sim, eu vo-lo digo: enfim, todo o mundo beberá do suco da videira, e o bebereis no reino do Cristo, com o Pai celeste! Sede, pois, saudáveis e dispostos e não leveis uma vida austera. Deus não vos pede que vivais em austeridade e privações; não pede que vos cubrais com o cilício: quer apenas que vivais conforme a caridade e o coração. Ele não quer mortificações que destroem o corpo; quer que cada um se aqueça ao seu sol e, se fez raios mais frios que outros, foi para dar a compreender a todos quanto é forte e poderoso. Não; não vos cubrais com cilício; não fustigueis vossa carne aos golpes da disciplina. Para trabalhar na vinha é preciso ser robusto e poderoso; o homem deve ter o vigor que Deus lhe deu. Ele não criou a Humanidade para a transformar em raça bastarda e macilenta; ele a fez como manifestação de sua glória e de seu poder.

Vós que quereis viver a verdadeira vida, estais nos caminhos do Senhor quando tiverdes dado o pão aos infelizes, o óbolo aos sofredores e a vossa prece a Deus. Então, quando a morte vos fechar as pálpebras, o anjo do Senhor proclamará os vossos benefícios e vossa alma, transportada nas brancas asas da caridade, subirá para Deus tão bela e tão pura quanto um lírio a desabrochar pela manhã sob um sol primaveril.

Orai, amai e fazei a caridade, meus irmãos. A vinha é grande, o campo do Senhor é imenso. Vinde, vinde: Deus e o Cristo vos chamam e eu vos abençôo.

Santo Agostinho

CARIDADE PARA COM OS CRIMINOSOS

Problema moral17

“Acha-se em perigo de morte um homem; para o salvar tem um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Deve,não obstante, o segundo arriscar-se para o salvar?”

17 N. do T.: Vide O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 15.

A resposta que se segue foi obtida na Sociedade Espírita de Paris, no dia 7 de fevereiro de 1862, pelo médium Sr. A.

Didier:

Questão muito grave é esta e que naturalmente se pode apresentar ao espírito. Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral, pois o de que se trata é de saber se se deve expor a vida, mesmo por um malfeitor. O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que será somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? É, talvez,a toda a sua vida passada. Imaginai, com efeito, que, nos rápidos instantes que lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido volve ao seu passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiçá, lhe chega cedo demais; a reencarnação poderá vir e ser-lhe terrível. Lançai-vos, então, ó homens; lançaivos todos vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai-vos,arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que teria orrido a blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes que indagar se o fará, ou não; socorrei-o, porquanto, alvando-o, obedeceis a essa voz do coração, que vos diz: “Podes salvá-lo, salva-o!”

Lamennais

Observação – Por uma singular coincidência recebemos,alguns dias mais tarde, a seguinte comunicação, obtida no grupo spírita do Havre, tratando mais ou menos do mesmo assunto.

Escrevem-nos que, em conseqüência de uma conversa a propósito do assassino Dumollard, o Espírito Elisabeth de rança, que já havia dado várias comunicações, apresentou-se espontaneamente e ditou o que se segue18:

18 N. do T.: Vide O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 14.

A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo. Completa fraternidade eve existir entre os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que são, de eus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis ontra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, ois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis,e muito menos lhes será pedido do que a vós.

Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais everamente vos será aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas ações, ue são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?

A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. ão, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de ue useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. odeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que lgumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor,conduzirão ao Senhor supremo.

Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens bedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos o mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes,porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. ermite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos. Em breve, quando os homens se ncontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e evoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.

Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um riminoso: “É um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe nfligem.” Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele, se visse junto de si um desses esgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o esmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser ocado de arrependimento, se orardes com fé. É tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma, transviada e evoltada, foi criada, como a vossa, à imagem do Deus perfeito. ssim, orai por ele; não o julgueis: não tendes esse direito. Só Deus o julgará.

Elisabeth de França

Allan Kardec

R.E. , março de 1862, p. 126